terça-feira, 30 de setembro de 2014

herdade

eis que nos tiraram do egito
exodamo-nos
exultemo-nos
liberdade

e vamos beber e comer
orgias irrestritas
vomitórios de inocência
sorridentes e desmotivados
em desapego
em desprendimento

que fomos educados no silêncio
donos de uma esperteza para além das nuvens
certos de que o todo-poderoso nos pertence

eis que nasceu
mais um poema
bêbado
farto

em favor de israel

***

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

espírito

noite
para a solidão da cozinha

não é
natureza morta
uma pequena mexerica
sobreposta à toalha de mesa
com motivo de flores

não há
composição
um pintor não há

o que há?

os meus olhos
os meus óculos

a (certa) distância
em primeiro plano
a pequena mexerica

ante o cenário
antes dos olhos
um manifesto

***

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

oração

ai altar de martírios

porque
o holocausto
o sangue definindo o terror e deflagrando
tonalidades adocicadas no
imo

os músculos se desapegam da força
e recrudescem à inocência

o cordeiro o matamos
seus olhos estatelados observam
o gelo de seus olhos
o cordeiro que se condoeu de nossas imperfeições

aqui a dor se esvai
aqui um lugar a fim de zumbis que se ruminem
nas omoplatas que autocalcificam a dúvida

a dúvida

entanto
somos ainda coesos na agreste ceguidão que dementa sementes de girassol
obstinada mania persecutória
pela luz

e somos felizes
assim
amém

***