domingo, 6 de dezembro de 2015

ironia? me surpreenda!


em busca de ironia?
não há têmpera na luz que sai de seus olhos
não há nem um grânulo de sal no suor que está secando na superfície da sua nuca

ministro de súbito um processo de derrocada
lição de hoje: um dia morreremos para além das artes cênicas

sob o lençol
apenas o sono
os músculos & os ossos

tenho uma necessidade física de dizer eu te amo
mas eu sinto que devemos, enfim, dormir

***

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

dia da consciência de que o sr. aldir blanc é um excelente compositor


eu
nem ligo
se me dizem ou melhor se me ensinam Algo
que já não soubesse desde que nasci
eu
frágil momo saci
e
também não sou obrigado vão tudo se foder a gostar d
o FEMEN Paulo Freire
nem dos poemas do nicolas behr
eu
negro gordo mulher

***

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Um banjo

Um bandolim, não, em nada se parece com
uma goiabeira carregadinha
(se eu não quiser).
Aprecio o virtuosismo ao bandolim,
mesmo assim não pode, a
princípio, ou por princípio,
o cara compor um trash grindcore. Mas eu quero.

Quero também que o canudinho usado para se
tomar um suco de uva sirva
de monumento na
praça da Matriz. Ele é
cavalo,
cavaleiro. Asa. Asa para compor a coisa delituosa.

E quando Jimmi Hendrix
inventa de tocar o meu bandolim
palhetando um canudinho desses,
sai de perto!

***

domingo, 11 de outubro de 2015

A aranha peluda

A aranha peluda
vulva de veludo d’oiro
com suas patinhas de cortesia...

O que costura trama
seus cálculos de leveza e escuma
uma teia de interesses.

Por meio de visgo duvidoso
uma seta por meta
um inseto.

A aranha tece
torturas torpores e pânico.

***

domingo, 4 de outubro de 2015

mais um gole de cerveja barata

minha mulher, a gorda, tomando uma lata de cerveja barata
apresentou-me a (novidade) uma tatuagem feita há dias
pertinho da virilha da perna esquerda
o meu primeiro nome

seria, no caso, o nosso segredinho
que vergonha

alguém aí entende a tonalidade entre rubor e amarelidão?
por que foi fazer uma merda dessas?! pensei

só faltava...
a gente quase no depois do quase
a gente já devia ter se separado uns dois anos atrás a covardia
não deixou os três filhos não
deixaram

agora
caralho
uma tatuagem que pentelhos cobririam fácil, meu nome
e na virilha que perdeu o cep faz tempo

onde estamos? caralho
caralho caralho

me dá um gole dessa cerveja, selma
não falei mais nada

ela sacou

***

terça-feira, 22 de setembro de 2015

reveladora p&b

a tua pele
                 negra
se insurgiu na sombra
&
contraluz
o que fez? fez-se em faça-se a luz: não uma luz qualquer: a luz

a tua pele é um não
assertivo ditatorial capaz de sangue, sabia

a tua pele é tirana
geografia do desejo tátil nos meus olhos
fisicalidade sinestésica
                                       desistência

adoro mais em tua pele as feridas abertas
intervalo de cicatrizes

eu sou um homem feliz

***

terça-feira, 1 de setembro de 2015

desejo: hortelã


fiz a barba porque você pediu
tomei uma ducha flato? duas vezes
dediquei alguns minutos
ali
ali basicamente

espelho escova macia dentifrício pronto
porta meia-luz
você

dormia que trouxa que eu sou

***

sábado, 13 de junho de 2015

microfissuras

microfissuras é o nome do meu poema
imaginei algo assim
numa abadia medieval
(a abadia dissenso)
um frade que fizera voto de silêncio depois de ter proferido uma blasfêmia
encontra-se em sua cela
ao retirar o cilício
sobre a inocência da carne
pontos de luz

***

domingo, 24 de maio de 2015

pétala

ao ver uma pétala onde?
onde não há flor &
jardim
ao ver uma pétala
imagino uma floresta das grandonas
um documentário sobre milhares e milhares de espécies
ao ver uma pétala
que não cabe num buquê
tampouco na palavra pétala
ao ver uma pétala
em fulgor palidez
ao ver uma pétala
prometo-lhe três adjetivos
ao ver uma pétala
reinventarei a poesia do mundo ocidental
e se essa pétala (motherfucker!)
e se essa pétala voar
é sacanagem

***

terça-feira, 12 de maio de 2015

empreendimento nome fantasia


se quiser empreender empreenda
empreenda aumento de salário
plano de saúde creche
ascensão social
respeito

se quiser empreender então
bala na agulha coragem
você é um herói
resista a fácil
repórter gostosona querendo uma entrevista ao vivo

se quiser empreender
empreendimento maior
não há que a simplicidade de
investir e lucrar e discrição
repito discrição

empreenda empreenda empreenda
até que a falência dê conta
seu filho da puta
de lhe mostrar o que se passa dentro

***

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A arca

Um homem leva a mão direita ao teclado; depois de um tempo, um homem,
o mesmo homem, leva a mão esquerda. Pouco, digita. Começa a compor um texto.
Tem certeza de que nada sairá de significativo de suas mãos.
Entretanto… ele está convicto de
que deve porque deve escrever uma série de coisas, que
um dia terá, que essas
coisas terão valor.
Ele irá imprimir o resultado.
Rabiscará com caneta esferográfica (na cor) vermelha, ajustando
palavras a fim de adequar o sentido, os sentidos. Amanhã, após
o café, mexerá de novo. Deixará rabiscado.
Madrugando.
Dois anos se passarão, o papel impresso e seus rabiscos numa gaveta.
Entre jogar na lixeirinha e, talvez,
acomodar na arca… O texto será lido para
sua filha de quinze anos. Papai, legal.

***

sábado, 31 de janeiro de 2015

água boa

chuva

os seios pinicam
a blusa branca da moça recém
de nome laurinha

o peito do velho
deseja não repreender seus olhos
que... não demoram... catarata

***